A música represaliada

A palavra “música”, usada aqui fora do seu contexto semântico, tem umha significaçom relacionada com pessoas dignas de reconhecimento e que fôrom injustamente punidas polas suas ideias galeguistas e republicanas. Estamos perante diferentes iniciativas musicais de caráter coletivo (orfeons, bandas de música, corais, coros...) ou individual (virtuosos do violino ou do piano), intérpretes (como a célebre contralto Maria Valverde), que majoritariamente interpretavam melodias tradicionais e populares galegas ou cánticos revolucionários. Vivêrom na Galiza no século XIX, no século XX e no exílio (a Argentina, Cuba, o México ou a República Oriental do Uruguai...) sempre apoiadas polos Centros Galegos.

Com este livro, publicado pola Deputaçom de Ponte-Vedra, subtitulado “Umha foliada de memória”, pretende-se homenagear e eliminar do silêncio, do esquecimento ou mesmo da ignomínia mais de vinte figuras que vam desde Alexandre Bóveda, Sofia Casanova, Maria Valverde, Jacinta Landa, Maria Otero... ou integrantes de cançons galegas em bocas de mulheres galegas desde os seus inícios no franquismo até a transiçom democrática. No Índice há umha breve secçom dedicada à Memória, um Limiar e um Epílogo e coro, e mais de vinte contributos referidos a estes represaliados ou mártires (muitos deles mulheres). Do ponto de vista tipográfico, do desenho, da maquetaçom, da impressom, das numerosas fotografias ou ilustraçons, esta obra reveste altíssima qualidade. Da nossa óptica, um dos factos mais salientáveis é que fossem respeitadas as diferentes propostas ortográficas, morfológicas ou lexicais usadas na Galiza no século XXI.

"A leitura da obra deixa umha profunda tristeza, compensada parcialmente por estas digníssimas biografias que vivêrom um exílio interior ou exterior"

Como os capítulos específicos mostram umha minuciosidade, rigor científico e exaustividade infreqüente nos numerosos tratados dedicados a temas culturais, só mencionaremos algumhas ideias reiterativas e coincidentes nas secçons destinadas a analisar a biografia destas magníficas pessoas ignoradas ou silenciadas na Galiza, onde a música chegou a ser umha ferramenta fundamental de resistência. Desde a Sociedade Coral Polifónica de Ponte-Vedra, na qual entre os coristas estarám vozes da política ou cultura galega como Bóveda, Castelao, Lousada Diéguez, Leandro Carré... cidade onde existia o elitismo tanto cultural como social dos integrantes desta Coral Polifónica.

A leitura da obra deixa umha profunda tristeza, compensada parcialmente por estas digníssimas biografias que vivêrom um exílio interior ou exterior, o drama e mesmo a tragédia (cadeias perpétuas, condenaçons à morte, fusilamentos), vexaçons, calúnias, exílio...

Agora que no sistema educativo os nossos estudantes perdem muito tempo em bagatelas, recomendamos o estudo obrigatório desta magnífica obra. Umha das melhores homenagens que se podem prestar a estes representantes dos grandes valores musicais, que enriquecem a nossa Memória Histórica.

*Professora Catedrática de Universidade

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