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Umha das caraterísticas da novíssima linguagem que se pode denominar genericamente própria da “classe política” é o abuso (e o abuso nom é uso, mas corruptela) de substantivos abstratos, nom contáveis, pouco transparentes; umha retórica burda (que costuma nom responder às perguntas e construir relatos fantásticos), verborreia, vacuidade e falácia.

A palavra “gente” é galego-portuguesa, apresenta várias aceçons como “número indeterminado de pessoas”; porém “pessoa” pode expressar “indivíduo considerado por si mesmo”, “ser humano, home ou mulher”, “indivíduo notável, eminente”... As duas procedem do latim, conforme informa o Machado (1977), documentadas já no século XIII: “persona” no latim significava “máscara de actor; papel, carácter, personagem; carácter, individualidade, personalidade”.

"É bem notório que esta classe política vive numha nuve, pensa no seu benefício próprio, anuncia ajudas que nom chegam"

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Diz a classe política que se preocupa pola “gente”, que “escuita”, porém na verdade deveria preocupar-se polas “pessoas” sujeitos de Direito, polos seus direitos, pola sua dignidade, polas necessidades mais urgentes (a economia, a sanidade, a educaçom de qualidade, os elevados preços energéticos...) e nom por nimiedades. É bem notório que esta classe política vive numha nuve, pensa no seu benefício próprio, anuncia ajudas que nom chegam, nom se pagam ou que nom se solicitam pola excessiva burocracia.

Essa afirmaçom de que se preocupam pola “gente”, assumida como presunçom “iuris et de iure” (quer dizer, nom admite prova em contrário), como se fosse um axioma, é muito discutível. Como muito poderia ser umha presunçom “iuris tantum”, isto é, aquela que admite prova em contrário. Nom é necessário ser um “experto” em economia, sociologia ou no laboral para assinalar centenares de exemplos. Neste território da Península Ibérica as pessoas som austeras, nom malgastam desnecessariamente o dinheiro “que ganham com o suor da sua fronte”, por exemplo em “iluminarem” os seus negócios; nom é por imperativo legal, o tema é muito simples: por senso comum e por absoluta necessidade. Algumhas pessoas vivem da política, outras ganham o pam com o suor da sua fronte. As pessoas de bem sabem mais do que muitos “expertos” (o número acrescenta-se a diário, sem que se saiba quem lhes concede esse título), “assessores”, “flibusteiros”...

A gente de bem, a gente do comércio... nom é néscia nem cretina e por isso está a perder a confiança nesta classe política, que depois do grande teatro do mundo, a farsa para títeres com atores e atrizes medíocres, cada quem ocupará o seu lugar; é suficiente com esperar silenciosa e pacificamente, sempre com esperança.

*Professora Catedrática de Universidade

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