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Eduardo Maragoto

O ostracismo de Carvalho Calero

Ricardo Carvalho Calero desenvolveu o seu ideário reintegracionista em numerosos escritos a partir do ano 1975. No meio da sua vasta produçom, esta parte da sua obra às vezes nem sequer é mencionada, entre outras cousas porque, por causa da normativa em que está escrita, tem encontrado muitos problemas para ser editada e distribuída.

É uma pena, porque, além de ter um enorme valor pedagógico, o autor nom deu pouca importância a esta extensa porçom da sua obra, que deixou reunida em cinco volumes (dous deles póstumos), que recolhem trabalhos escritos entre 1975 e 1988 e que considerava uma espécie de cólofon às suas investigações sobre a língua. Por outro lado, nom podemos esquecer que se trata da parte do seu ingente trabalho que mais claramente o projetou ao presente e provavelmente também ao futuro.

Isto nom quer dizer que o resto da sua produçom nom deixasse pegada noutros âmbitos da cultura e da língua galegas, porque de facto exerceu uma enorme influência em muitos campos, mas em termos sociais Carvalho já passou à história como o grande pensador do reintegracionismo. Por isso, teria todo o sentido que os livros em que explica a sua posiçom sobre este particular sejam dados a conhecer com normalidade.

Tem-se discutido muito sobre o ostracismo de Carvalho Calero. O debate continuará, mas este ano penso que deveríamos prestar mais atençom ao silenciamento que ainda padece no presente que a tentar explicar o que efetivamente padeceu nos últimos anos da sua vida. Grande parte da sua produçom continua sem poder ser publicada normalmente, e o Scórpio, o seu livro mais conhecido, foi retirado por causa da normativa da Plataforma que a Xunta habilita para que as bibliotecas públicas adquiram livros em galego. Em resumo, as mesmas intituições que o homenageiam fam o possível para que nom seja lido. Eu podo entender que nos 80 se considerasse patriótico anular a dissidência linguística e até penso que é possível que se a postura ganhadora entom fosse reintegracionista nom teria sido diferente, polo menos se nom fosse Carvalho Calero o diretor de orquestra, pois a sua ética tolerante estava mui por riba do seu reintegracionismo. Ora bem, pareceme que na atualidade isso já nom se justifica. Neste 2020, a melhor homenagem que poderíamos prestar a Carvalho seria contribuir a resolver este problema que continua a pairar sobre a sua obra.

*Presidente da Associaçom Galega da Língua-AGAL

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