Sobre os parabéns e parabenizar

Numha reuniom do Padroado da Fundaçom Eduardo Blanco Amor um dos patrons manifestou que nom gostava de usar a palavra “parabéns”, aduzindo como insólito argumento que dela derivava o verbo “parabenizar” ‘congratular-se com alguém ou algo’, outro comentou-nos em privado sobre a possibilidade de usar como parasssinónimo “felicitar” ‘merecer felicitaçons, a nossa resposta foi que sempre poderiam utilizar “dar os parabéns a alguém” ou alternar com “felicitar”. Cada pessoa pode e deve usar a unidade lexical que considerar mais adequada a cada situaçom, porém muitas pessoas ignoram que um Decreto sobre as Normas do galego (1983) nom deve nem pode atentar contra direitos fundamentais: liberdade de expressom, opiniom, ideias.

"Um dos derivadores mais fecundos para criar verbos na língua galego-portuguesa e na língua espanhola é o sufixo –izar"

É um princípio conhecido entre os morfólogos que qualquer palavra formada com as RFP (Regras de Formaçom de Palavras) nom deve ser objeto de censura, nestes casos a responsabilidade nom está na palavra, mas nos lexicógrafos (por nom terem passado por ali, Pena dixit). Com efeito, um dos derivadores mais fecundos para criar verbos na língua galego-portuguesa e na língua espanhola é o sufixo –izar. Neste exemplo é um simples processo aditivo, a base (parabém) é acrescentada de um elemento externo; noutros verbos pode haver um afixo situado diante da base ou depois da base: a-terror-iz(ar). Palavras com esse esquema abundam na linguagem jurídica; seguindo os postulados de Pena este sufixo está marcado por expressar ‘açom causativa’, ‘umha situaçom complexa integrada, polo menos, por duas situaçons: umha causa e o seu efeito ou resultado num causando’. Entre os seus valores semânticos estaria o tipo ‘resultativo’ que se descreve como ‘converter em/fazer como x’: “formalizar” ‘fazer formal’, “judicializar” ‘dar caráter judicial’, ‘levar por via judicial’ (e o seu contrário “desjudicializar”), “legalizar” ‘dar caráter legal’ (e os seus contrários “deslegalizar” ‘fazer que algo deixe de ser legal’ e “ilegalizar” ‘declarar ilegal’).

O sistema educativo atual está laminando o conhecimento de ciências fundamentais e nomeadamente as ciências da linguagem como a Morfologia lexical, tam de atualidade, pois que cada dia os governos criam novas palavras, que nom estám nos dicionários, porém este facto nom implica o dever de nom utilizá-las. Como os nossos estudantes cada vez pensam menos, interpretam menos, analisam menos, ignoram as disciplinas fundamentais das Humanidades, sería muito urgente que se derrogassem todos esses Decretos atentatórios contra a razom, a inteligência, o pensamento... houvesse menos ócio, tempo livre, jogos... e existisse mais estudo, trabalho e esforço, razoamento... nom se potenciasse o computador, o celular... e os objetivos estivessem presididos pola sabedoria, leituras em papel, bibliografia... para nom converter o Reino de Espanha num território que poderia chegar a ter o “mérito” de estar situado no “ranking” dos primeiros lugares da Europa no que diz respeito a ignorância.

*Professora Catedrática de Universidade

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