Embora conhecéssemos o seu estado de saúde nas últimas semanas, sempre tivemos a esperança de que ganharia, mais umha vez, este combate pola sua força física e mental, pois a sua memória e facilidade de palavra eram e som infreqüentes nas pessoas idosas, que nom velhas.

A primeira vez que falamos com ela foi uns meses antes de maio de 1997. Nessa altura preparávamos umha homenagem na memória de Valentim Paz-Andrade e recebeu-nos na sua morada. Facilitou muita informaçom e material para que um grupo de investigadores pudéssemos aprofundar na vida e na obra de umha pessoa que tinha dedicado toda a sua vida a trabalhar pola Galiza, quer do ponto de vista da economia quer do ponto de vista da língua e da cultura. Também colaborárom o seu filho e o incansável Francisco R. Vidales (“Paco”). Os atos principais tivérom lugar no cemitério do Leres e três mesas-redondas celebradas os dias 27 e 28 de maio no Centro Cultural Caixavigo: a primeira sobre economia com intervençom de Ciprino Ximenez, Gustavo Luca de Tena, Joám Carmona, Maria do Carmo Garcia Negro e outros economistas, e a segunda centrada em Valentim como escritor, com intervençons de José Luís Rodríguez, Elias Torres Feijó, José Martinho M. Santalha e a autora desta lembrança urgente. Os textos podem ver-se no número 51 da revista “Agália” (págs. 275-336).

Dados de caráter mais pessoais venhem nestes minutos à minha memória: a sua humildade, o cuidado e esmero com que atendia um pequeno museu, onde havia documentos, publicaçons e materiais de muitas lembranças da História da Galiza; o carinho com falava das estadias de Eduardo Blanco-Amor na sua casa, perto do mar cantado por trovadores, lugar onde elaborou umha parte importante de umha das suas obras; a acolhida sempre grata de nacionalistas da emigraçom, como José Bieito Abraira. Nom gostava nada de aparecer nos jornais, nem aceitava entrevistas (algumha concedeu a Fernando Franco).

Ainda sem podermos assimilar esta triste notícia, transmitimos as nossas condolências para toda a família e a “Paco” e de igual modo às duas pessoas fieis que sempre estivérom em todo momento ao seu lado: Pepita e Afonso.

Castelao, Blanco Amor, Valentim, o seu filho Afonso e muitos galeguistas... acolherám esta mulher discreta, silenciosa, humilde, dedicada inteiramente a velar pola memória documental da Galiza. Que o caminho para o Além seja em paz. Requiescat in pace!

Desde Ourense, a 12 de setembro de 2022.