Faro de Vigo

Faro de Vigo

Contenido exclusivo para suscriptores digitales

María do Carmo Henríquez

Mamar ou saber as línguas

O verbo mamar significa ‘chupar o leite da mama’, um derivado é mamom ‘que mama muito’, porém em sentido figurado ‘imbécil’. O verbo saber ‘conhecer’ ou ‘ter conhecimentos específicos (teóricos ou práticos)’ tem como derivados sabedor, sabedoria e as formas cultas sapiencia, sapiente.

Na História das três grandes línguas românicas da Península Ibérica é um facto inquestionável, que até os séculos XV ou XVI eram consideradas “línguas vulgares” face ao latim a língua da Ciência, e será na última década do século XV quando aparece a primeira gramática do castelhano (1492) e o Universal vocabulario en latín y en romance collegido por el cronista Alfonso de Palencia (1490). As línguas vulgares nom havia que estudá-las, era suficiente com mamá-las, com os falares populares.

As primeiras gramáticas costumam ter como objetivos: acrescentar a honra de cada Povo, fazer apologia da sua língua, padronizar cada língua no seu estado de máxima perfeiçom possível, contribuir para elaborar umha norma, criar e fazer pátria através da promoçom do vernáculo como língua escrita. Preocupam-se por alcançar um estatuto científico para esta “Arte” ou Ciência. Os primeiros gramáticos do português som Fernão d’Oliveira (1536), quem acentua que “nós falamos com grande repouso, como homes assentados”, descriçom que nom se ajusta à realidade atual, pois hoje os portugueses, sobretodo os de Lisboa e Coimbra nom falam repousadamente, mas depressa. João de Barros (1540) também tenciona louvar a sua linguagem, contextualizá-la na vertente greco-romana das gramáticas ocidentais e normativizar a língua portuguesa.

“As línguas nunca se sabem, há que estudá-las sempre, estám numha permanente mutabilidade”

decoration

A lingüística galega nom nasce com a obra de Mirás, como tem estudado Aurora Marco (A lingüística galega no século XIX,1970). No século XVIII assomam duas figuras importantes, os frades Martim Sarmiento e Sobreira. Mirás (1864) escreve para que o galego se compreenda. Mais relevante é a gramática de Saco e Arce (1868), sendo o seu propósito promover os estudos filológicos e prestar homenagem à Galiza, e incorpora refráns porque neles é onde se vê a pureza do idioma, enquanto aplica as regras da ortografia castelhana ao galego. Valladares (1892) deseja contribuir para o lustre e para a glória da sua pátria, manifesta um enorme interesse pola ortografia e defende a grafia etimológica para nom estar em contradiçom com a escrita dos idiomas do Sul da Europa.

As línguas nunca se sabem, há que estudá-las sempre, estám numha permanente mutabilidade. Nom é suficiente com uns “cursinhos” ou percentagens. Os docentes devem dominar as disciplinas língüísticas, distinguir entre a língua geral e a das línguas especializadas, a aprendizagem deve ser longa, porque o galego há que regenerá-lo e exige esforço e rigor científico. A época de mamar as línguas já passou, agora é o século de saber as línguas.

*Professora Catedrática de Universidade

Compartir el artículo

stats