Há umhas semanas estivo de atualidade na seqüência do ato realizado numha das ilhas do arquipiélago canário. A gente perguntava se seria polo aniversário do seu nascimento (Azinhaga, Colegã, 16 de novembro de 1922–Tias, Lanzarote, 18 de junho de 2010). Esperávamos que nessa lembrança participassem figuras com competência reconhecida nos âmbitos da Teoria e Crítica Literárias ou de Literatura Portuguesa do século XX, porém nom foi assim. Acabamos de saber que proximamente vai aparecer um romance em espanhol (nom é um erro), dizem que é da sua autoria.

Sobre esta figura universal da literatura portuguesa diremos apenas três ideias: hipóteses etimológicas sobre o seu apelido, o uso do vocábulo saramago pola mais excelsa poeta galega até hoje, e as suas estadias na Galiza. A palavra saramago, como outros apelidos galegos, procede do árabe “sarmaq” (Machado, 1977), é o nome de umha planta herbácea crucífera muito comum; Corominas e Pascual (1984) na voz “jaramago” sustentam que procede do árabe e este do persa, datam a 1ª documentaçom no século XV, que a descreve como “una yerva dicha amaruscus o xaramago”. Os dous grandes dicionários gerais da língua portuguesa, publicados no Brasil e em Portugal (2001), indicam que do espanhol deveu de passar ao português do século XVIII, acrescentam que é freqüente nas searas e que se dá ao gado como alimento.

Este vocábulo aparece num poema da mais excelsa poeta galega, Rosalía de Castro: “Castellanos de Castilla,/ tratade ben ós galegos,/ cando van como rosas, / cando vén, vén como negros. / […] Foi a Castela por pan / e saramagos lle deron,/ déronlle fel por bebida, / peniñas por alimento.”

Conhecemos pessoalmente o escritor em Compostela, foi-nos apresentado por Elvira Souto e Ramom L. Suevos, quando participava nuns encontros, em novembro de 1984. Conversamos com ele, no “II Congresso Internacional da Língua Galego-Portuguesa na Galiza”, os dias 23 a 27 de setembro de 1987. Participou em Ourense ativamente e proferiu umha palestra intitulada “Um ponto de vista do escritor: necessária reinvenção da língua portuguesa” (Actas, 1990, p. 881-885). Mostrou a sua preocupaçom polo ensino da língua portuguesa, censurou que se estudasse a História da Literatura como se o suporte dessa literatura nom fosse a língua; reivindicou umha escola que faga da História da Língua a matéria vertebradora por excelência de umha formaçom humanística; salientou que nom se pode renunciar ao passado. Reconheceu simbolicamente a unidade da língua da comunidade galego-luso-brasileira e dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa.

Sobre a palavra “lôstrego”, um vocábulo geral e vivo na Galiza e no Brasil, o escritor comprometeu-se a incluí-lo na cidade literária. No ano 1999 coincidimos em Bruxelas, vinha do Parlamento Europeu, já tinha mudado de parecer sobre a nossa comunidade lingüística, porque em Portugal diziam “mãe” e na Galiza “nai”. Confessou-nos que era um home imensamente feliz.

* Professora Catedrática de Universidade