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María do Carmo Henríquez

Cunqueiro, os vinhos da Galiza e os Cancioneiros medievais

A obra de Álvaro Cunqueiro é poliédrica e como os diamantes caracteriza-se polo brilho. Confessamos que nom se sente o mesmo quando se escreve sobre um escritor a quem nom se conheceu pessoalmente, que quando se fala de alguém com o qual temos conversado ou vivido experiências vitais (Blanco Amor, Cunqueiro, Carvalho Calero, Guerra da Cal, Jenaro Marinhas, Rodrigues Lapa…).

Como já informamos (FARO DE VIGO, 6-VIII-2020, pág. 21), tivemos o prazer de conversar com ele na ‘Feira do Vinho’ de Ribadávia em 1972. Foi-me apresentado por José Posada e debatemos durante várias horas sobre temas antropológicos, literários e os vinhos do seu pequeno país, os que entram nas velhas adegas como em lugar sacro (Cambados, Salvaterra do Minho, Leiro, Barrantes, Betanços), a sua ideia de que o vinho é o mais fastuoso sangue da terra, de toda a terra e sobre os provadores do Capítulo Sereníssimo do Alvarinho.

Cunqueiro foi um digníssimo sucessor do Rei Sábio “que apreciava o vinho galego de Ourense, sem dúvida o mesmo que é hoje conhecido e reputado sob o nome de vinho do Ribeiro. É bom frisar que a sua primeira mocidade foi passada na ribeira do Lima, região de Ourense, nos domínios do seu aio, Garcia Fernández de Villamayor”: “Assi com’eu beveria [do] bõo vinho d’Ourens, / assi [eu] queria son de [O] cunctipotens/ pera meestre Joan” (Rodrigues Lapa, cantiga 20 (CBN. 490; CV. 73). Publicitou no FARO DE VIGO os vinhos do Ribeiro (de maneira generosa, sem lucro económico), foi um dos maiores pregoeiros que o Alvarinho tivo.

Com sentido do humor, magnífico narrador de crónicas e histórias. Quando foi nomeado ‘Doutor Honoris causa’ da Universidade de Santiago, confessou que fora umha surpresa muito emocionante, porque lhe concedia o doutoramento a Faculdade na qual fora mau estudante; outra surpresa foi o outorgamento da bolsa vitalícia da Fundaçom ‘Barrié de la Maza’(FARO DE VIGO, 20-I-1980, pág. 21),

Estivemos na magna homenagem que se lhe tributou em 26 de abril de 1980 (FARO DE VIGO, 27-IV-1980, pág. 16). Agradeceu ao Senhor ter-lhe dado o dom da fala, por ter nascido nesta naçom galega e à dignidade das Cantigas do Rei Afonso O Sábio. Este diário difundia a abundante bibliografia sobre o escritor e as teses de doutoramento defendidas em universidades (Perugia, Leeds, Atlanta, Estocolmo, Houston).

Participamos no Congresso, celebrado em Mondonhedo em abril de 1991. Nas ‘Actas’, publicadas pola Deputaçom Provincial de Lugo, podem ver-se estudos de M. A. Araújo Iglesias, Manuel María, Montero Santalha, César Morám, Aurora Marco, Aracéli Herrero, Armesto Faginas ou César Cunqueiro... Desfrutamos da excelente hospitalidade da Presidenta da Câmara Municipal. Era abril, passamos frio no Seminário de Mondonhedo

Cunqueiro é fiel à tradiçom dos Cancioneiros medievais [‘Cantiga nova que se chama ribeira’ (1933), ‘Dona de corpo delgado’ (1980)]. O seu poema neotrovadoresco mais conhecido é o musicado, que começa assim: “No niño novo do vento”.

* Professora Catedrática de Universidade

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