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"Ubi sunt" os que temos conhecido o Professor Ricardo Carvalho Calero?

Na noite do 25 de março de 1990, Aurora Marco comunicava-nos o seu falecimento. Os seus restos mortais fôrom trasladados à sala funerária do Hospital Provincial, onde nos congregamos além da família os seus discípulos mais próximos. Como era habitual na "Idade de Ouro" da AGAL (1982-1996), solicitamos ajuda económica, para poder abonar a necrológica. No texto constava que a AGAL e a revista Agália "continuarám a luitar polo seu legado lingüístico e cultural" [Vid. nº 21, págs 107-118 e nº 29, págs 25-60, em que relatamos a sua vida na Associaçom, da qual tenho sido Presidenta desde 1982 até ao 2001]. Reproduze-se a carta da demissom de Jenaro Marinhas del Valle (académico da RAG).

O seu corpo foi levado até a igreja conventual de Sam Francisco, onde tivo lugar o funeral e escuitamos a homilia do Padre Isorna. Por volta das 18.30 horas recebiam sepultura no cemitério de Boisaca, na gaveta mortuória nº1439. Diferentemente de outras figuras da nossa cultura nom recebeu as honras que lhe correspondiam. Dom Ricardo, do mesmo jeito que outros discípulos, foi condenado ao ostracismo. Perguntamo-nos: " Ubi erant os que dizem conhecer o Professor Carvalho Calero, nas décadas 1980-1990, em que o nosso Mestre corregiu e emendou a sua obra, para que ficasse bem patente o seu legado lingüístico?"

A definiçom lexicográfica da palavra legado é clara. Reproduzimos umha máxima jurídica: "Legatum est donatio quaedam a defuncto relicta ab herede praestanda" (Legado é certa doaçom deixada por um defunto, que deve ser garantida polo herdeiro). É inquestionável que as herdeiras legais som as suas filhas. Porém, os herdeiros do seu legado lingüístico seriam os que cumprem o seu testamento: "O galego incorporaria-se ao sistema de que foi protótipo e que hoje tem como arquétipo a norma lisboeta, sem deixar de ser galego, conservando a sua fonética, a sua morfologia e o seu léxico peculiares no que tenhem de genuínos, mesmo aportando ao sistema o que puder enriquecê-lo [?]" (in, "Actas do II Congresso [?]", 1989, depósito legal 1990, pág. 900) [conforme defende a Associaçom Galega de Estudos Galegos]. Agora as cousas estám bem claras: quem nom usa Carvalho para referir-se a Dom Ricardo; quem se entrega à norma lisboeta, sem conservar a fonética do galego, a sua morfologia e o seu léxico peculiares, nom devem autoproclamar-se os seus herdeiros; quem nom contempla toda a sua trajectória vital (1910-1990), demonstram nom respeitar as suas últimas vontades.

É dificil que os novos ensaístas e estudiosos podam contribuir algo original ao trabalho de Montero Santalha (1993) e outros autores (e autoras!). Mesmo poderíamos estar perante casos de plágio, demonstráveis com um sucinto estudo. A mais dura e triste síntese da sua vida, confessa-a o próprio autor: "Já que viver feliz foi impossível, / sequer morrer feliz se cadra é sonho? /Ante que juiz, que instância e a que nível / há de ver-se o recurso que inteponho? [?]"("Cantigas de amigo e outros poemas", 1986, pág. 173).

A obra deste "Grande da Galiza" é muito extensa. No que diz respeito à autora destas linhas tem-se centrado, nomeadamente, na "Gramática elemental del gallego común" -que estudamos na Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade compostelana- em trabalhos publicados desde 1991 até ao 2011. Deixamos o estudo dessa ingente obra para os opinadores profissionais.

* Professora Catedrática de Universidade

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